terça-feira, 25 de dezembro de 2012

...NÃO TINHA TELEVISÃO!

                                                      NÃO TINHA TELEVISÃO...

        Minha infância começou sem televisão. Aliás, sem um monte de coisas das quais ninguém abre mão nos dias de hoje. Nossos pais eram pobres. Numa cidade pequena como Paim Filho, gente "rica", na nossa concepção,  eram o advogado, o médico, alguns empresários. A esmagadora maioria da população levava uma vida extremamente simples. E era assim, ao natural, que encarávamos um tempo mágico, sem tecnologias, onde tínhamos que inventar nossas brincadeiras. Vez por outra ganhávamos algum brinquedo - normalmente de plástico - que hoje não custaria mais do que 10 ou 15 reais. Mas nos divertíamos mesmo é com os brinquedos que nós mesmos criávamos, utilizando os materiais disponíveis, que íam de pedras a gravetos, de  restos de madeira a nacos de argila cavocada com as mãos pelos barrancos da redondeza. Foi nesse meio que me criei. Brincávamos de "lampa" (lampa-lampa que se escampa...), pulávamos "sapata" (amarelinha), brincávamos até de roda com as meninas, que sempre sabiam entoar cantigas que nunca entendíamos de onde tinham aprendido.  Caçávamos passarinho de bodoque, pescávamos muito no rio Forquilha, jogávamos nica ("úrtimo"!!!) e, principalmente, jogávamos muita bola. Tínhamos alguns locais preferidos. Do lado da igreja Matriz, onde hoje fica o estacionamento do Santuário, havia um gramado verdinho. Não raro éramos "atropelados" dali pelo padre Juvêncio, que temia boladas nos vitrais da Igreja (e com razão, que não foram poucas as boladas). Tinha também o que chamávamos de "campinho do Chuí", que ficava do lado direito da casa dele, onde hoje existe uma garagem grande e que na verdade não passava de  um pequeno potreiro meio inclinado onde havíamos fincado duas goleiras feitas com troncos de timbó. E tinha ainda o Estádio da Baixada, onde íamos de vez em quando. No mais, as ruas de Paim Filho eram nosso playground. Rolava todo tipo de brincadeira e invencionices próprias da infância. E o mais importante: éramos felizes. Muito felizes. Hoje eu tenho convicção de que nenhuma criança de hoje consegue ser tão feliz quanto fomos naqueles gloriosos anos das décadas de 60 e 70.  Ah!  Eu tinha mais de 7 anos quando conheci o primeiro aparelho de televisão... 

sexta-feira, 8 de junho de 2012

(Já publiquei no facebook)



MINHA CRÔNICA DO INVERNO...  

                (Junho/2011)
               
 

                     Ah! O Inverno!
                Finalmente esfriou, anunciando noites geladas, manhãs brancas e tardes que convidam para banhos de sol  que ajudam a aquecer o corpo escondido sob  as  grossas camadas de roupas de lã.
                 Gaúcho que não gosta de inverno deveria mudar-se para outras terras, pois certamente  deve ser  infeliz  de Maio a Setembro, pelo menos. Não gostar de inverno tendo nascido no Sul é no mínimo um contra-senso.
                    Afinal, é apenas nesta latitude que  temos o privilégio de conviver com as quatro estações do ano de forma bem marcante, parecido com o que experimentam os irmãos do hemisfério Norte. E só nós podemos nos gabar dessa condição para nossos patrícios do resto do Brasil. Do Rio Grande ao Paraná – aliás, região povoada de gaúchos – somos brindados pela natureza com a possibilidade de experimentarmos  o frio e o calor com todas as suas nuances.  Só nós, sulistas, temos a chance de irmos da praia à neve  em menos de 90 dias. Sim, porque em pleno mês de Março ainda estamos no litoral,  para logo ali, no mês de Junho, estarmos curtindo temperaturas negativas.
                   Na verdade,  a nostalgia que permeia as longas e geladas noites  da estação me traz à tona  recordações de infância, de uma época em que a vida rodava com vagar e se deixava curtir em seus detalhes,  fazendo  o pêndulo do tempo oscilar pesadamente e tolhendo-nos a percepção das horas e dos dias.
                    Inverno lembra fumaça saindo das chaminés de lareiras e fogões a lenha; lembra ambientes aconchegantes e rodas de chimarrão permeadas por intermináveis  bate-papos sobre a vida e o viver; lembra goles de “graspa” prá “esquentar o couro” e pequenas núvens de vapor saindo de bocas e narizes arrocheados pela baixa temperatura.  
                  Faz lembrar dos filós na vizinhança,   do meu pai jogando cartas com os amigos e dos copos de vinho tinto sendo degustados entre punhados de pipoca e amendoim torrado;  das fogueiras  e festas de São João  quando se vendia “cartucho”, quentão e pé-de-moleque.
                Inverno lembra bergamota colhida no pé e degustada por entre as réstias de sol; lembra “chinelos-de-dedo” esmagando a geada crocante nas ruas barrentas da minha Paim Filho, lá em meados dos anos 70; lembra homens a cavalo com seus ponchos sebentos  cobrindo os dois, debaixo da garoa fria .
                O inverno me traz a nostalgia dos jogos de futebol no “campinho do Chuí”, por sobre a grama ressecada pela geada , e lembra dos foguinhos que ateávamos àquela grama para  aquecer nossos pés enregelados  nas tardes  de Julho;  lembra pinhão na brasa e meninas mergulhadas em cachecóis e blusões coloridos tricotados pelas próprias mães;  lembra a “caixa-de-lenha” atrás do fogão – lugar mais disputado nas noites congelantes da estação. E poças d’água congeladas pela geada. Cerração. E até neve, vez por outra.               
                Eu tenho que assumir:  sou apaixonado pelo inverno.   Não que não curta o verão, que tem lá seus atrativos, mas fico contando os dias até a chegada da primeira massa de ar polar a cruzar as fronteiras da Argentina. E quando escuto a previsão do tempo anunciando a chegada do primeiro frio,  já fico com outro astral. E então, quando o primeiro casaco é tirado do guarda-roupa e o primeiro cobertor é jogado sobre a cama, deixo-me levar pela nostalgia  e permito ao meu cérebro que divague por entre as lembranças de momentos que nunca mais voltarão, mas que eu tive o privilégio de viver.
              Mas, pensando bem...você aí, friorento,  também não acha um privilégio ter nascido no sul ???      
               
                 
·         Marco Antônio Schneider Arsego

                 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

PERSONAGENS DA MINHA TERRA

Essa é só prá quem quem nasceu em Paim Filho ou  viveu lá por algum tempo. Toda cidade tem suas figuras marcantes, folclóricas, queridas, inesquecíveis. Muitos já faleceram, alguns migraram para outras cidades, outros Estados, outros países. Alguns ainda vivem por lá. Marcaram a infância de muita gente ou deixaram sua marca na história do município.  Vamos lembrar de alguns? Quem não se lembra, por exemplo,  do Tonico, da Nega Lídia (aquela do "credo, que nojo"), do Juca Bugre, do Mudo Gancho?  Quem esqueceria dos irmãos Camargo, do Babão da Nega Lídia, do Nego Tita (craque do Cruzeiro), do Remelexo? Quem nunca topou e se assustou com a feiúra do Tonho Góes em alguma madrugada? Como esquecer do Tatão, do Bastião Pedra, do Pido e do Pedrinho? Você lembra do Gabardina (topei com ele dia desses em Passo Fundo, mas não me reconheceu)? Do Tuta, do Tutão? Do Bizi (onde anda?),  do Chico Roxo, da Tchua, da Maria Bunda? Lembra do Borges? Do Burro Branco? E do Pitanga? Sem falar do Tufa, do Mico e dos irmãos Caxilena...
Esses são alguns dos que eu lembro. Outras gerações devem ter outras figuras folclóricas para citar. Comentem neste blog. Vamos relembrar juntos.  

sábado, 12 de maio de 2012

ONDE TUDO COMEÇOU...

localização de Paim Filho(em vermelho)

Vista aérea de Paim Filho nos anos 80



    Eu nasci em Paim Filho, norte do Rio Grande do Sul, em 1964. 
    Ano turbulento aquele.
  Em 31 de Março os militares assumiam o poder, com o intuito de "restaurar a ordem" num país que mal se acostumara com uma frágil democracia, instalada após a ditadura Vargas. Foram tempos difíceis, com leis rigorosas, restrições, imposições. Minha primeira infância se deu nesse tempo. Eu não entendia o que estava acontecendo na política ou na economia do meu país, mas vivi em um período em que aprendemos o que é disciplina, civismo, amor à pátria, responsabilidade. Aprendi todos os hinos possíveis, que sei cantar fluentemente até hoje...hino nacional, hino riograndense, hino do exército, hino da marinha...tudo ensinado por imposição nas escolas. Aprendi a respeitar horários, aprendi que existem hierarquias a serem respeitadas. E querem saber de uma coisa? Tenho saudade disso e tenho pena das novas gerações, além de muito medo do que ainda está por vir nessa nossa democracia calcada apenas em direitos e permissividades.   
    Paim Filho havia se emancipado de Machadinho há 2 anos. Era uma pequena vila, que começava a dar os primeiros passos para se organizar como município. Apenas uma pequena parte da Av. João Crisóstomo (que ainda nem nome tinha) contava com calçamento. As outras ruas eram de chão batido. Inclusive a nossa.  Morávamos numa casa de madeira bem simples, com poucos cômodos, na metade da rua Passo Fundo,  passando a Igreja e indo em direção ao frigorífico que existia na época e que dava nome ao "Bairro do Torresmo".  Havia poucas casas , todas construídas em madeira, também muito simples, estilo italiano. Lembro dos vizinhos: as famílias Souza, Marques, Lovatto, Benetti, Mistura, Luppi, Galon... Próximo ao moinho de trigo moravam o meu avô, José Arsego e meu tio-avô Priamo. Cerca de cem metros adiante da nossa casa começava a rua que levava ao Rio Forquilha, onde funcionava a balsa dos Buratto. Na verdade o rio ficava a pouco menos de 500 metros. Por ali às vezes passava o ônibus do Chuí, com destino a Cacique Doble e nos divertíamos quando buzinava forte ao começar a descida rumo ao rio, para avisar os balseiros que estava chegando. No caminho, à esquerda, havia uma rua que levava até a casa do meu tio Pedroni e na esquina o casarão dos Klin. A cantina do Albino Paese (que antigamente fora uma cooperativa de vinhos) ficava à direita  dali, mas o acesso se dava pela rua que passava defronte ao moinho de trigo, mais acima. As casas ficavam separadas da rua por um valetão, que tinha sempre água corrente e onde deviam desaguar esgotos das residências. Para atravessá-la as famílias colocavam uma ou duas tábuas fortes, de um lado a outro. Em dias chuvosos, era arriscado pisar ali e não raro se presenciava espetaculares tombos.    É uma região de morros. Onde eu morava, no inverno o sol se punha antes das 5 da tarde. Não é difícil imaginar a intensidade das geadas que enfrentávamos nos invernos mais gelados. 
   Foi nesse cenário que vivi até os 9 anos. Caçando passarinhos com bodoque, pescando lambari com caniço na balsa do Buratto, jogando nica pelas ruas poeirentas de Paim e chutando bolas de borracha nos campinhos de grama sapecados pelas geadas.  Inventando brincadeiras e usando os brinquedos que nossa pobreza permitia. Vivendo uma vida simples, inocente, espontânea. Como assim também era a minha querida Paim Filho em seus primórdios como município. Há , mesmo, muito o que contar... 
   
    

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

UM BLOG PARA ETERNIZAR LEMBRANÇAS

Começo aqui a minha viagem no tempo.

Neste blog, tenho certeza que muitos dos meus amigos, colegas ou simplesmente pessoas que passaram pela minha vida irão se encontrar, em alguma das crônicas.
Sou nostálgico, saudosista, mesmo.
Em meus (raros) momentos de introspecção, me pego lembrando das pescarias no Rio Forquilha, dos jogos de futebol com bola de borracha nos gramados sapecados pela geada, das caçadas de bodoque pelas matas dos arrabaldes, ou simplesmente das minhas perambulações pelas ruas da minha querida Paim Filho em busca de alguém com quem brincar. Outras vezes relembro dos colegas de escola, dos colegas de profissão, dos primos, dos tios...  E então me vêm à mente os amigos, as centenas de amigos que contabilizo nessas minhas quase cinco décadas de existência.
Sim, há muito o que relembrar. Há muitas histórias a serem contadas.
E é isso que pretendo fazer neste espaço.
Vem comigo!
Quem sabe você se ache por aqui!...