NÃO TINHA TELEVISÃO...
Minha infância começou sem televisão. Aliás, sem um monte de coisas das quais ninguém abre mão nos dias de hoje. Nossos pais eram pobres. Numa cidade pequena como Paim Filho, gente "rica", na nossa concepção, eram o advogado, o médico, alguns empresários. A esmagadora maioria da população levava uma vida extremamente simples. E era assim, ao natural, que encarávamos um tempo mágico, sem tecnologias, onde tínhamos que inventar nossas brincadeiras. Vez por outra ganhávamos algum brinquedo - normalmente de plástico - que hoje não custaria mais do que 10 ou 15 reais. Mas nos divertíamos mesmo é com os brinquedos que nós mesmos criávamos, utilizando os materiais disponíveis, que íam de pedras a gravetos, de restos de madeira a nacos de argila cavocada com as mãos pelos barrancos da redondeza. Foi nesse meio que me criei. Brincávamos de "lampa" (lampa-lampa que se escampa...), pulávamos "sapata" (amarelinha), brincávamos até de roda com as meninas, que sempre sabiam entoar cantigas que nunca entendíamos de onde tinham aprendido. Caçávamos passarinho de bodoque, pescávamos muito no rio Forquilha, jogávamos nica ("úrtimo"!!!) e, principalmente, jogávamos muita bola. Tínhamos alguns locais preferidos. Do lado da igreja Matriz, onde hoje fica o estacionamento do Santuário, havia um gramado verdinho. Não raro éramos "atropelados" dali pelo padre Juvêncio, que temia boladas nos vitrais da Igreja (e com razão, que não foram poucas as boladas). Tinha também o que chamávamos de "campinho do Chuí", que ficava do lado direito da casa dele, onde hoje existe uma garagem grande e que na verdade não passava de um pequeno potreiro meio inclinado onde havíamos fincado duas goleiras feitas com troncos de timbó. E tinha ainda o Estádio da Baixada, onde íamos de vez em quando. No mais, as ruas de Paim Filho eram nosso playground. Rolava todo tipo de brincadeira e invencionices próprias da infância. E o mais importante: éramos felizes. Muito felizes. Hoje eu tenho convicção de que nenhuma criança de hoje consegue ser tão feliz quanto fomos naqueles gloriosos anos das décadas de 60 e 70. Ah! Eu tinha mais de 7 anos quando conheci o primeiro aparelho de televisão...