(Já publiquei no facebook)
MINHA CRÔNICA DO INVERNO...
(Junho/2011)
Ah! O Inverno!
Finalmente esfriou, anunciando noites geladas, manhãs brancas e tardes
que convidam para banhos de sol que ajudam a aquecer o corpo
escondido sob as grossas camadas
de roupas de lã.
Gaúcho que não gosta de inverno deveria mudar-se para outras terras,
pois certamente deve ser infeliz de Maio a Setembro, pelo menos. Não
gostar de inverno tendo nascido no Sul é no mínimo um contra-senso.
Afinal, é apenas nesta latitude que temos o
privilégio de conviver com as quatro estações do ano de forma bem marcante,
parecido com o que experimentam os irmãos do hemisfério Norte. E só nós podemos
nos gabar dessa condição para nossos patrícios do resto do Brasil. Do Rio
Grande ao Paraná – aliás, região povoada de gaúchos – somos brindados pela
natureza com a possibilidade de experimentarmos o frio e o calor com todas as suas nuances. Só nós, sulistas, temos a chance de irmos da praia à neve em menos de 90 dias. Sim, porque em pleno mês de Março ainda estamos no
litoral, para logo ali, no mês de Junho,
estarmos curtindo temperaturas negativas.
Na verdade, a nostalgia que permeia as longas e
geladas noites da estação me traz à tona recordações de infância, de uma época em que a vida rodava com vagar e
se deixava curtir em seus detalhes, fazendo o pêndulo do tempo oscilar pesadamente e tolhendo-nos a percepção das
horas e dos dias.
Inverno lembra fumaça saindo das chaminés de lareiras e fogões a lenha;
lembra ambientes aconchegantes e rodas de chimarrão permeadas por
intermináveis bate-papos sobre a vida e o viver;
lembra goles de “graspa” prá “esquentar o couro” e pequenas núvens de vapor
saindo de bocas e narizes arrocheados pela baixa temperatura.
Faz lembrar dos filós na vizinhança, do meu pai jogando cartas com os amigos e dos copos de vinho tinto sendo
degustados entre punhados de pipoca e amendoim torrado; das fogueiras e festas de São João quando se vendia “cartucho”, quentão e pé-de-moleque.
Inverno lembra bergamota colhida no pé e degustada por entre as réstias
de sol; lembra “chinelos-de-dedo” esmagando a geada crocante nas ruas barrentas
da minha Paim Filho, lá em meados dos anos 70; lembra homens a cavalo com seus
ponchos sebentos cobrindo os dois, debaixo da
garoa fria .
O inverno me traz a nostalgia dos jogos de futebol no “campinho do
Chuí”, por sobre a grama ressecada pela geada , e lembra dos foguinhos que
ateávamos àquela grama para aquecer nossos pés
enregelados nas tardes de Julho; lembra pinhão na brasa e meninas
mergulhadas em cachecóis e blusões coloridos tricotados pelas próprias mães; lembra a “caixa-de-lenha” atrás do fogão – lugar mais disputado nas
noites congelantes da estação. E poças d’água congeladas pela geada. Cerração.
E até neve, vez por outra.
Eu tenho que assumir: sou apaixonado pelo
inverno. Não que não curta o verão, que tem lá
seus atrativos, mas fico contando os dias até a chegada da primeira massa de ar
polar a cruzar as fronteiras da Argentina. E quando escuto a previsão do tempo
anunciando a chegada do primeiro frio, já fico com
outro astral. E então, quando o primeiro casaco é tirado do guarda-roupa e o
primeiro cobertor é jogado sobre a cama, deixo-me levar pela nostalgia e permito ao meu cérebro que divague por entre as lembranças de momentos
que nunca mais voltarão, mas que eu tive o privilégio de viver.
Mas, pensando bem...você aí, friorento, também não acha um privilégio ter nascido no sul ???
·
Marco Antônio Schneider Arsego
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